CLEMENTINO

Clementino finalmente foi dado de alta hoje, sábado. Depois de 10 dias internado, ontem a noite foi submetido a um procedimento cirúrgico. Partiu, com um olho a menos, acompanhado de sua humilde esposa, sacola de plástico na mão, a pé, em direção ao metrô. Fará uma escala na Ceilândia, na casa de um familiar, até conseguir pegar o ônibus para Goianésia, a mais de 200 km de Brasília. 
Ontem levei-lhe duas camisas, porque já não tinha roupas limpas. O Estado? A Defensoria Pública? A OAB? A Secretaria de Direitos Humanos? Os moralistas? Nunca apareceram! Alguém da policia para ao menos pedir-lhe desculpas? Quem vai devolver-lhe esse olho? Quem vai arcar com os prejuízos materiais, físicos, psicológicos e morais desse cidadão, cujo único crime foi vir a Brasília manifestar-se por seus direitos? 
Chorei ao sair do hospital: pela hipocrisia, a ignorância e a desumanidade do cidadão médio brasileiro. Não se trata de ideologias, de partidos políticos, mas de respeitar a condição humana, a dignidade. Sinto aquela impotência que rasga a carne. A esperança se esvai. 
Só me resta uma certeza: são esses heróis anônimos que fazem a História, enquanto vocês ficam sentados no sofá assistindo televisão chamando-os de baderneiros.

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