Assine um acordo de paz, com você. Decrete uma trégua, hasteie a bandeira branca. Simplesmente perdoe-se. Sem remorso, culpa ou auto-punição. Entenda seus limites, e aceite-os com benevolência. Seja solidário, consigo mesmo.
Nascido em Brasília, criado e habitante de Taguatinga. Talvez os surpreenda, mas nunca sonhei com ser médico. Quando adolescente, demonstrava maior interesse pelas ciências exatas, tanto que prestei meu primeiro vestibular para a carreira de engenharia de redes. Não consigo ainda identificar os motivos exatos que me levaram a tal, mas, dois meses após concluir o ensino médio, aceitei, sem titubear, o desafio proposto por meu pai de estudar medicina em uma ilha do Caribe - com 17 anos -, através de uma bolsa de estudos integral oferecida pelo governo cubano por meio de sua embaixada aqui no Brasil, graduando-me como médico pela Escuela Latinoamericana de Medicina no ano 2010. Depois de formado, com muita disposição, mas ainda repleto de incertezas (e, confesso, sem muita vontade de regressar ao Brasil), optei por ir para a Venezuela trabalhar como médico do Batalhão 51 , vinculado ao programa de residência em Medicina de Família e Comunidade (lá denominado Medic...
Apareceu num sábado, como que caído do telhado. Parecia estar de passagem. Trazia ao ombro uma bolsa de viagem preta, meio rasgada, na qual impressionava carregar o que lhe restava de vida. A UBS estava vazia, como a maioria dos sábados, o que nos permitiu conversar vagarosamente, sem interrupções. Contou-me sua história em tom agressivo, tentando depositar sobre mim as desgraças enfadonhas que arrastava. Podia sentir de longe seu alento etílico, numa boca de dentes enferruja dos, e trazia vestidas roupas que, evidentemente, há muito não trocava. Sobre a cabeça, cabelo algum restava, de um formato ovalada, comprida, brilhante. No corpo, alto e rijo, ao menos umas 6 marcas de tiro, que fez questão de sinalizar, levantando a camisa, abaixando o short, dando voltas pelo consultório. “Minha derrota aconteceu quando minha mãe faleceu. Logo depois - tinha uns 40 anos - , fui desligado da polícia. Eu era PM, no Rio de Janeiro. Um mês após minha dispensa, minha mulher me deixou. Só resto...
Ao contrario dos que me acusam, nunca dependi do Petê nem do Lula para chegar onde cheguei. Se a alguém me devo, é à minha mãe, meu pai, meus irmãos, minha família e à Revolução Cubana, graças a quem fiz-me médico e me tornei um ser humano maior. Sou herdeiro da diáspora que amalgamou a trajetória desse país: avô cearense, retirante, candango construtor de Brasília, quem, em uma épica travessia de 16 dias em pau-de-arara, teve a coragem de trazer minha vó com meu pai de dois anos nos braços para a capital, lá pela década de 50; pai que transitou de engraxate a vendedor de frutas e pipoca, aos pés da catedral, até se transformar em servidor concursado da Câmara Federal. Nunca senti vergonha da minha historia, que é mais bem motivo de orgulho, compromisso, gratidão e lealdade. Muitos dos que se beneficiaram com as políticas públicas do governo Lula, hoje comemoram sadicamente sua prisão, sem perceberem seu papel manipulado de auto-traição, contra seus próprios in...
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