Apareceu num sábado, como que caído do telhado. Parecia estar de passagem. Trazia ao ombro uma bolsa de viagem preta, meio rasgada, na qual impressionava carregar o que lhe restava de vida. A UBS estava vazia, como a maioria dos sábados, o que nos permitiu conversar vagarosamente, sem interrupções. Contou-me sua história em tom agressivo, tentando depositar sobre mim as desgraças enfadonhas que arrastava. Podia sentir de longe seu alento etílico, numa boca de dentes enferruja dos, e trazia vestidas roupas que, evidentemente, há muito não trocava. Sobre a cabeça, cabelo algum restava, de um formato ovalada, comprida, brilhante. No corpo, alto e rijo, ao menos umas 6 marcas de tiro, que fez questão de sinalizar, levantando a camisa, abaixando o short, dando voltas pelo consultório. “Minha derrota aconteceu quando minha mãe faleceu. Logo depois - tinha uns 40 anos - , fui desligado da polícia. Eu era PM, no Rio de Janeiro. Um mês após minha dispensa, minha mulher me deixou. Só resto...
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