CRISE HIPERTENSIVA?

Alertaram-me sobre um senhor de 40 anos que chegou passando mal. Na primeira medida da PA, o aparelho registrou 180/120 mmHg. Alguns minutos depois, 225/133 mmHg. Preocupada, a técnica de enfermagem responsável pelo acolhimento pediu-me para avaliá-lo rapidamente. 
Entrou ao consultório caminhando, desconfiado, com o semblante angustiado. “O que foi que aconteceu", questionei. "Cheguei com uma dor de cabeça, mediram minha pressão e estava alta. As enfermeiras se assustaram. Me disseram um monte de coisa e comecei a me sentir pior”. “Entendi”.
Sentado, observava-o, tentando mostrar-me relaxado; deixei que falasse. Homem simples, confessou logo preocupar-se em excesso por doenças e ter medo de morrer. Compreendi. Esforcei-me por ser mais empático que o habitual. Pedi que se deitasse na maca, fechasse os olhos e respirasse profundamente enquanto o examinava. 
De volta à cadeira, perguntei sua profissão. “Jardineiro. Trabalho para uma empresa terceirizada que presta serviços para a NOVACAP. Esse dias anunciaram que pretendem cortar gastos. Disseram que vão reduzir em 30% os funcionários. Estou com medo de estar entre eles”.
Indignei-me, automaticamente. Pensei em seus filhos. A final, também sou trabalhador. Conversamos. Com mais confiança, manifestei minha opinião: “É um absurdo o que esses governos fazem. Para os ricos, tudo. Vivem perdoando dívidas, dando incentivos fiscais. Para os pobres, só querem saber de cortar: salário, investimento na saúde, educação, emprego. Não é justo!”.
Surpreendido com o que havia dito, quis estender o diálogo. Coisa que fizemos. Sei que no final da consulta, éramos quase amigos. Voltei a aferir sua PA. 140/85 mmHg. Sem precisar recorrer a medicamentos! Apenas a alguns lenitivos: empatia, sorriso no rosto, olhar de compreensão e ouvidos para escutar suas angústias. 
Recomendei que fizesse um MAPA. Que tentasse descansar. Que não desistisse. Que reduzisse o sódio. Mas que lutasse por seus direitos.

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