AMOR PLATÔNICO
- Tem filhos?
- Não. Nunca namorei.
- Com 40 anos, nunca namorou? Nem um beijo na boca?, perguntei em tom jocoso.
- Não!, e sorriu.
Sua voz se arrastava, numa boca quase sem dentes; seus braços retos, dando a impressão de maiores longitudes, e os dedos das mãos rígidos, semi-flexionados. Falava lentamente, como que vasculhando a cabeça à procura de palavras.
- Como foi que você começou a ficar doente?
- Tinha uns 13 anos, na escola. Me apaixonei por uma menina. Mas ela começou a sair com outro rapaz. Perdi a vontade de estudar. Comecei a me comportar de forma estranha. Andarilhava por aí... Até que tiveram de me internar no “Agapapi”.
- Como era o nome dela?
- Não gosto de tocar nesse assunto. Não gosto de lembrar o nome dela.
Fechou a cara e continuou fazendo os exercícios orientados pela professora Raquel. Voltei meu olhar às arvores distantes do Parque Três Meninas e deixei meu pensamento voar...
Como teria sido a vida daquele rapaz, hoje tomando 4 remédios controlados, com o diagnóstico de esquizofrênico, se houvesse encontrado correspondência em seu amor platônico adolescente?
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