SEM CONVERSA NÃO DÁ
Motivo da consulta: falta de ar. Idade: 44 anos. Não tinha histórico de asma, DPOC ou insuficiência cardíaca. Fez uma primeira consulta com um clínico, quem, de cara, solicitou-lhe um raio x de tórax e uma espirometria (sim, uma espirometria!).
O resultado do primeiro exame veio normal, a não ser por alguns osteofitos marginais nas vértebras torácicas que o médico fez questão de chamar de “bico de papagaio”; o resultado do segundo surpreendeu, com vários parâmetros alterados, concluindo com a seguinte informação: idade pulmonar equivalente a 77 anos.
Enquanto lia os laudos, com os olhos baixos, a mulher me observava extremamente apreensiva.
“Preciso de um encaminhamento para o pneumologista doutor. Urgente”.
– Está bem, não contrariei. – Só vamos conversar um pouco sobre como todos esses problemas começaram. Pode ser?
"Foi depois que um tio meu morreu. Na mesma época, entraram lá em casa e estupraram minha filha. Pularam o portão, a tarde, e pegaram-na de surpresa, sozinha. Agora meu filho de 17 anos começou a beber com meu marido, que é alcoólatra e às vezes fica agressivo".
- E como você se sente em relação a tudo isso?
- Sinto ter perdido a capacidade de resolver essas questões como mãe. A situação fugiu do meu controle. Não sei o que faço. Além do mais, ando sentindo dores da ponta do cabelo até a unha dos pés.
- Ahh tá. E com toda essa historia que você acaba de me contar, acha mesmo que o problema está em seus pulmões?
- Não. Deve ser porque sofro de ansiedade e sou muito nervosa. Nem consegui assoprar naquele aparelho direito durante o exame. Tomo até uns remédios controlados, há um bom tempo. Só que essa angustia, a insônia e esse medo de morrer não saem de mim.
- E você contou tudo isso pro médico que te atendeu na consulta anterior?
- Não.
- Entendi...
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