IGREJAS E MÉDICOS
51 anos, com a existência reduzida em dor de cabeça. Passou a vir à consulta com maior frequência nos últimos tempos, por subidas “inexplicáveis” da pressão arterial, além de tremores internos, insônia, dor nas costas e palpitações.
No meio da anamnese, já com minha hipótese diagnostica quase consolidada, perguntei qual era seu principal medo. “Perder um filho assassinado”, respondeu, com uma rapidez que me impactou. Depois de examiná-la, perguntei o que a deixava tão ansiosa, e confesso que suas respostas causaram-me constrangimento.
“Era minha sétima filha, doutor; uma surpresa: fiquei grávida com 44 anos. Tomei um susto, mas rapidamente comecei o pré-natal; fiz tudo bonitinho.
“No final da gestação, tive um sangramento, e corri para o hospital. O médico que me atendeu disse que não era nada importante, e me mandou para casa com analgésicos. No outro dia pela manhã, o sangramento piorou e as dores passaram a incomodar. Voltei até o mesmo hospital, mas dessa vez me disseram que não havia médico disponível. Me mandaram que procurasse outro, onde também não consegui atendimento. Só num terceiro, mais ou menos próximo, consegui ser atendida.
“Quando o médico por fim me examinou, constatou que o bebê já estava morto, e me perguntou, aflito, em tom de repreensão, porquê não tinha procurado a emergência antes".
"Eu não podia acreditar no que estava acontecendo”.
“Fui pra casa arrasada, e meu mundo de repente desabou; como se tudo tivesse perdido o sentido. Me enfiei na bebida, na maconha, na cocaína. Fui até o fundo do poço, me culpando por tudo que tinha acontecido”.
“Por que não insisti com o primeiro médico? Por que não fui direto ao terceiro hospital no dia seguinte?”.
“Passei por vários médicos e psiquiatras, e tomei todo tipo de remédio para depressão e ansiedade. Chegaram a achar que eu estava louca”.
“Só melhorei mesmo depois que aceitei Jesus, doutor. Passei a frequentar a igreja – a pedido da minha filha – e tenho tirado forças de onde nem pensei que tivesse”.
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