FEBRE VERDE-AMARELA
Mais um dia de brigas, filas, barulho, discussões e desentendimentos. “A gente que paga tudo isso aqui”; “Vocês não querem trabalhar; “Vocês não passam de uns preguiçosos”. “A gente quer ser atendido agora”, vociferaram esbaforidos os usuários, estufando o peito - como se o Apocalipse estivesse a suas portas -, depois que o pessoal da sala de vacinas anunciou saída para o horário de almoço.
Dentro da mesma sala, exprimida, técnicas, técnicos e enfermeiras trabalhando em ritmo frenético, sem pausa - nem para ir ao banheiro -, em franco processo de adoecimento. Aceleram o passo - com movimentos repetitivos que muitas vezes acarretam lesões musculares, tendinites, hérnias de disco -; anotam protocolos, verificam temperatura das geladeiras e permanecem enclausuradas durante 10 horas escutando berro de criança no pé do ouvido.
Eu atendo num consultório ao lado da sala da vacinas, e é simplesmente angustiante escutar gritos de pavor o dia inteiro.
Não faltaram avisos sobre a possibilidade da atual crise sanitária de febre amarela. Era previsível. Mas no Brasil, a gente só corre quando a bomba estoura e a água começa a subir pelos calcanhares.
Meios de comunicação geram mais confusão do que informação de qualidade.
Em Belo Horizonte, falece uma importante figura da cultura e da política da cidade, em consequência da infecção pelo flavivirus.
Mas vem cá...
Não há mesmo culpados por essas mortes? Onde estão as ações de recuperação promovidas pela Samarco-Vale, responsáveis pelo desastre ambiental da barragem de Mariana? Vocês acham que é casual que o foco principal da febre amarela esteja em Minas e São Paulo? Onde está o saneamento básico, o planejamento urbano e o CONTROLE DO VETOR? E a responsabilidade dos políticos e gestores?
É legitimo abarrotar os centros de saúde e descontar sua raiva, medo e desinformação nos funcionários - a final, somos pagos pra isso. Mas vamos cobrar soluções dos responsáveis e tentar resolver juntos as causas da atual crise?
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