SURDEZ OU DESCASO
Entrou milagrosamente na minha agenda por um “favor” que veio pedir-me um funcionário samaritano do laboratório.
A senhora de 74 anos levava um bom tempo com perda de audição e percebendo uns ruídos angustiantes em seus dois ouvidos que não solucionavam com nada, apesar de sua filha, trabalhadora do SUS, tê-la levado em três ocasiões diferentes ao hospital e ao posto de saúde.
Alguém da igreja havia sugerido que usasse cerumin, e assim vinha fazendo. Finalmente, disseram-lhe num retorno que precisava agendar um procedimento, disponível apenas para janeiro do ano que vem.
Examino seus dois ouvidos com o otoscópio...
“Vou ali pedir pra auxiliar de enfermagem preparar o material pra gente fazer um lavado de ouvido”.
Seus olhos encheram-se de lágrimas.
Aquecemos o soro, preparamos seringa, jelco e o restante do material.
Em menos de cinco minutos terminamos o procedimento.
Já estava me despedindo, quando a senhora veio ao meu encontro desabando aos prantos e me abraçou com força.
“Deus abençoe (soluçando)”, e senti como as lágrimas de gratidão banharam-lhe o rosto envelhecido.
Sua filha, que nos observava, aclamou, com os olhos também vermelhos e aguados: “Nem acredito que minha mãe vai passar o natal e o ano novo curada desse problema!”.
O que eu senti?
Vergonha e indignação.
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