JESUS ACABA DE CONSULTAR
Dessa vez, apareceu num corpo de pele negra, queimada pelo sol, mais velho, cabelo crespo grisalho, rente ao crânio, e barba rala por fazer. Trazia a camisa de botão aberta e suja - como quando a gente limpa o chão da oficina -, um jeans esfarrapado cheio de manchas, e chinelo de dedo fininho, num pé de unhas grossas e encardidas, como se há séculos não se banhasse.
Saiam-lhe palavras entrecortadas, pela crise de asma.
“Faz essa nebulização e volta aqui pra gente conversar”.
Contou-me de sua solidão, depois da morte de sua companheira de vida há 10 anos; da fome que vem passando, e do abandono de seus filhos (“Depois que crescem eles não querem mais saber da gente”). Confessou sobreviver recolhendo lixo e papelão pelas ruas.
Me disse não ter almoço para fazer, mas deixou o consultório sorrindo.
Comentários
Postar um comentário