CERVICITE FELIZ
“É doutor... aturei muita coisa nesses anos, por conta dos meus filhos e da vida que eu levava. Não me sentia amada, nem desejada. Era tudo uma chatice. Meu marido só me tratava mal, e ainda me traía”.
“A gente fica aguentando um monte de coisas, mas, no final, não vale a pena”.
Ela tinha 40 e poucos, e acabava de sair de um casamento de 20 e tantos anos. Seu sorriso ia de canto a canto, sem embargo, e entre gargalhadas contava-me detalhes de seus últimos encontros e relacionamentos.
“Sinto uma dorzinha aqui no pé da barriga de vez em quando, doutor, e às vezes durante a relação sexual... Também já estou perto da menopausa, e me falaram que era bom começar a fazer um tratamento”.
Examinei-a detalhadamente. Todos os sistemas, incluindo a parte ginecológica. Logo, opinei:
“Apesar de ainda faltar algum tempo pra isso, penso que você deve encarar a menopausa, não como uma doença, mas como uma etapa diferente da sua vida. Faz parte do ciclo vital da mulher. Você estará deixando para trás seu período fértil, para entrar numa nova fase, cheia de possibilidades, com mais sabedoria e maturidade. Não é uma doença.
“Duas mudanças irão te beneficiar muito nessa transição: seguir uma dieta mais saudável, natural, com baixo conteúdo de gorduras, e a prática de exercícios físicos regularmente. Não precisa tomar remédios”.
Nessa altura, interrompeu-me oportunamente para afirmar que estava já matriculada numa academia.
“Em relação à sua avaliação ginecológica, te tenho uma notícia não muito agradável: você está com uma cervicite, uma infecção no colo do seu útero. Vai precisar tomar alguns antibióticos (e seria bom tratar também seu parceiro)”.
Esperei sua reação... mas, ao contrário de minha expectativa, ela simplesmente pegou a receita, sem reclamar, e saiu sorrindo, após despedir-se efusivamente, deixando-me um tanto quanto encabulado.
Ps: Não lembro ter visto alguém tão radiante ao receber uma notícia como essa.
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