O PRINCIPAL MEDO DOS MÉDICOS

Um dos fatores que mais nos prejudicam em tanto profissionais é uma falácia que nos inculcam desde os primórdios: "Médico não erra. Médico não pode - nunca - mostrar que não sabe". 
É um daqueles ensinamentos que escutamos passiva e repetidamente durante a formação, que todos, no fundo, sabemos estar equivocado; mas ninguém tem a coragem de assumir.
Medicina não é ciência exata. É arte de cuidar, prevenir, consolar e ajudar na cura e reabilitação de SERES HUMANOS, num dado contexto cultural, histórico, político, econômico, social. 
Quer tarefa mais impossível do que essa?
Essa falácia contribui em certa medida, a meu ver, para que alguns médicos terminem por adotar estratégias de proteção diante dessas variáveis que lhes provocam receio e insegurança: aumentam a distância física, afetiva e psicológica entre ele e o enfermo, não demonstram empatia, solicitam exames compulsivamente, maltratam, não tocam, se zangam com facilidade e tornam-se lacônicos. 
“Quanto mais rápido me livrar do paciente melhor. Desse modo, haverá menos chance de que perceba minhas fraquezas e defeitos...”
Nesse sentido, o objetivo fim de seu trabalho, que é acolher, aconselhar e auxiliar quem o procura, paulatinamente, vai perdendo graça e significado. 
Sequestrado em si mesmo e nas defesas que construiu, se desumaniza, se deprime, se faz solitário, se automatiza, e começa a odiar o trabalho que o coloca constantemente a situações de provação e constrangimento. 
Até entrar em esgotamento: físico, psíquico e emocional, desenvolvendo a síndrome conhecida como Burn Out - principalmente se sua principal motivação for o dinheiro e sua carga laboral for excessiva. 
Sabem da absurda porcentagem anônima de médicos e médicas sofrendo com depressão e ansiedade?
Persiste em meu interior apenas, depois desses anos de modesta experiência, uma simples, inocultável e cristalina verdade:
NÓS NÃO SABEMOS DE TUDO! 
Um bom médico deve ser humildemente capaz de reconhecer riscos iminentes, sinais de alerta, padrões que fogem da normalidade; colocar o melhor de si e da ciência, com amor, dedicação e interesse, gerenciando as incertezas e imprevisibilidades - se necessário consultar livros e o conhecimento acumulado durante milênios, discutir com outros colegas, caso por caso -, conjuntamente com a pessoa doente que procura por nossos cuidados, sem abandoná-la jamais.
Isso é mais que suficiente. 
Ah, e tem outro detalhe.
Sem medo de parecer o que somos:
HUMANOS

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