Postagens

Mostrando postagens de julho, 2017

OS CUSTOS DE UM CUIDADO AO AVESSO

Ao parecer, s ó ex iste uma lei que  ainda  é  cumprida   à risca  no Brasil: a   Lei dos Cuidados Inversos.  F az emos mais  ressonâncias  magnéticas  e tomografias  computadorizadas  que   Estados Unidos, França e Alemanha , porém  não   conseguimos  garanti r  um  simples exame de urina tipo 1 (EAS) a  todas as mulheres durante o  pré-natal .   Gastamos   absurdos  com o que é supérfluo ,  às vezes inútil,  e muito  mais tentando remediar  as consequências  de  não  haver   investido n o que é fundamental.  Semana passada  atendi u ma puérpera de 16 anos  que, ao  contrário  das expectativas , demon strava interesse por seguir   todas  as orientações fornecidas pela equipe .  Estudante  do ensino médio , d izia-se  a paixonada pelo namorado ,  c om quem já morava.  Engravidou cedo, mas,  segundo garante,  de forma  absolutamente  planejada .  Na  época   que acompanhamos seu pré-natal,  vários exames  do protocolo   estavam  indisponíveis   na rede   e , para piorar  sua si

REPORTAGEM RECORD-DF SOBRE CASO CLEMITINO - VÍDEO

Imagem

PORQUÊ USO AS REDES SOCIAIS

Muitos questionam o fato de eu ter aberto minhas redes sociais aos pacientes que atendo diariamente. Na cabeça de alguns, impensável para um médico.  Como sabem, sou especialista em medicina de família e comunidade: preocupado não só com tratar doenças, mas em tentar incidir sobre as determinantes sociais da saúde.  Um dia pensei: há tantos temas que gostaria de discutir com meus pacientes, mas tenho tão pouco tempo durante as consultas, com as agendas sempre lotadas. Também pensei : as consultas seriam tão mais produtivas se conhecesse melhor as pessoas que procuram por meus cuidados.  Assim sendo, tive a ideia de começar a incluir em minha rede pessoal os usuários que residem nas quadras sob minha responsabilidade como médico de família, na tentativa de cumprir com esses objetivos. E sinto que tem dado certo, indo além de minhas despretensiosas expectativas. Pela manhã, vi a postagem de duas mulheres que atendo lamentando o falecimento de seu querido pai, paciente com uma c

ESPECIALISTAS DO MEDO

Quando forem consultar, evitem os (por mim chamados) Médicos Especialistas do Medo. Eles podem te adoecer. Infelizmente, trata-se de uma especialidade médica em alta no Brasil. Eles não fazem Medicina Baseada em Evidências, nem utilizam o tal Método Clínico Centrado na Pessoa. Preferem atendimentos impessoais, apegados a protocolos, e nutrir-se de informações obsoletas. Eles ainda acreditam nas falácias da indústria preventiva. M ovem-se por preconceitos inconfessos, interesses econômicos, altas doses de pessimismo e seus próprios medos adormecidos.  São médicos que perderam a confiança no universo, que deixaram de acreditar no princípio clínico-jurídico de presunção de inocência; na pureza e fortaleza humana natural. Indolentes, estão sempre à procura de ocultos padecimentos. Na falta de elementos clínicos consistentes, ou de poder de convencimento durante a consulta (muitos desses médicos têm sérias limitações de comunicação), pedem baterias de exames e solicitam retorno. 

CRISE HIPERTENSIVA?

Alertaram-me sobre um senhor de 40 anos que chegou passando mal. Na primeira medida da PA, o aparelho registrou 180/120 mmHg. Alguns minutos depois, 225/133 mmHg. Preocupada, a técnica de enfermagem responsável pelo acolhimento pediu-me para avaliá-lo rapidamente.  Entrou ao consultório caminhando, desconfiado, com o semblante angustiado. “O que foi que aconteceu", questionei. "Cheguei com uma dor de cabeça, mediram minha pressão e estava alta. As enfermeiras se assustaram. M e disseram um monte de coisa e comecei a me sentir pior”. “Entendi”. Sentado, observava-o, tentando mostrar-me relaxado; deixei que falasse. Homem simples, confessou logo preocupar-se em excesso por doenças e ter medo de morrer. Compreendi. Esforcei-me por ser mais empático que o habitual. Pedi que se deitasse na maca, fechasse os olhos e respirasse profundamente enquanto o examinava.  De volta à cadeira, perguntei sua profissão. “Jardineiro. Trabalho para uma empresa terceirizada que presta serv