PARALISIA FACIAL
Aos 25 anos, destrambelhara-se na vida: namorado novo - traficantizinho do bairro -; e tomara a difícil decisão de atualizar a mãe sobre os rumos de sua existência: era bissexual. Tinha passado a falar excessivamente em gírias nos últimos tempos, (“como pode, doutor? Tão bem criada...”), o que tornou o convívio entre elas demasiado desgastante. Havia-lhe planejado tudo: melhores colégios, festa de debutante, formatura na pompa, casamento com homem pacato, depois do qual lhe presentearia com um apartamento mobiliado, ali mesmo no Gama, onde moravam desde que ela nascera. Após organizar-lhe a vida, colocaria finalmente seu silicone – e apertou lascivamente os seios com a palma das mãos –, e faria a tatuagem que sempre sonhara (sinalizando com o dedo um dos flancos do abdome). Ia já pelos seus 43, irrompendo em gargalhada cada vez que lembrava “o quanto havia sido otária com a filha”. “Por que não esmurrei a cara dela?”, repetia inconformada. “Quis ser compreensiva, guardar tudo