DOLORES
Sua figura transmite fielmente o que deve ter significado esses 60 e poucos anos de sofrimento e solidão. Olhar rígido, pele manchada, cabelo cacheado preto lambido – endurecido pelo excesso de creme de pentear –, num rosto emoldurado por um óculos de grau de armação quadrada escura. Taciturna, com postura de ombros caídos, coroada por uma giba costal, que ilustra bem o peso do mundo que parece carregar. Ela é de todo aquele perfil típico de paciente psiquiátrico, condenado à cronicidade, apesar das promessas da indústria farmacêutica: baixa reatividade afetiva (para não dizer nenhuma) e ausência absoluta da possibilidade de um sorriso (em 3 anos nunca esboçou qualquer expressão facial). Ideias organizadas, entretanto, sem a presença de sintomas psicóticos, o que motivou-me sempre a tratá-la de forma diferenciada. Além de diabética, em uso de insulina, obesa e hipertensa, seu caso faz-se mais complexo pelo o uso crônico de álcool, que contribui a condená-la às dependências de sua c