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Mostrando postagens de 2018

PARALISIA FACIAL

Aos 25 anos, destrambelhara-se na vida: namorado novo - traficantizinho do bairro -; e tomara a difícil decisão de atualizar a mãe sobre os rumos de sua existência: era bissexual. Tinha passado a falar excessivamente em gírias nos últimos tempos, (“como pode, doutor? Tão bem criada...”), o que tornou o convívio entre elas demasiado desgastante.  Havia-lhe planejado tudo: melhores colégios, festa de debutante, formatura na pompa, casamento com homem pacato, depois do qual lhe  presentearia com um apartamento mobiliado, ali mesmo no Gama, onde moravam desde que ela nascera.  Após organizar-lhe a vida, colocaria finalmente seu silicone – e apertou lascivamente os seios com a palma das mãos –, e faria a tatuagem que sempre sonhara (sinalizando com o dedo um dos flancos do abdome). Ia já pelos seus 43, irrompendo em gargalhada cada vez que lembrava “o quanto havia sido otária com a filha”. “Por que não esmurrei a cara dela?”, repetia inconformada. “Quis ser compreensiva, guardar tudo

CHECK-UP

check-ups preenchem  vazios  existenciais

CADASTRAMENTO

"Bom dia, senhora. Somos da Clínica da Família. Viemos fazer um cadastramento." "Uh quê? Política? Sai pra lá. Passo o ano inteiro sem conseguir uma consulta, até 8 meses esperando. Agora que começou a campanha eleitoral vocês vêm aqui pra pedir voto. Sem vergonhisse." "Calma senhora. A gente só queria preencher a ficha de cadastramento do e-SUS."

NEM MILAGRES SERÃO TOLERADOS SE NÃO HOUVER EMPATIA

Diz que Jesus voltou, e escolheu um hospital para aparecer. Em seu primeiro atendimento, no primeiro plantão, trouxeram-lhe uma senhora de meia idade, incapaz de andar há muito tempo, restrita à cadeira de rodas.  Sem mirar-lhe nos olhos, incólume, de cabeça baixa, Jesus elevou uma das mãos e disse solenemente: "Levanta e anda, mulher!" Sem hesitar, ela pôs-se firme e saiu. Ao chegar à sala de espera, uns dos pacientes que aguardava quis saber sua opinião sobre o tal médico n ovo... "Igualzinho aos outros: nem olha na nossa cara, não examina, e vai logo mandando a gente ir embora."

INTERVIR OU ESCUTAR

Se a pessoa trouxe a queixa de “dor e fraqueza nas pernas”, por exemplo, e no exame físico não se encontram razões que justifiquem tais sintomas, o que devemos fazer? Pedir um ultrassom doppler dos membros inferiores? Pedir exames de sangue, urina, fezes? Ou construir um espaço de fala acolhedor no qual a pessoa se sinta confortável para contar que sua mãe de 102 anos faleceu há 6 meses, depois de um longo período acamada cuidada por ela; que tem medo de entrar na casa e de dormir perto do quarto onde ela ficava; e que sente profunda e irreparável nostalgia dela? Fico com a última opção...

SUCOS PARA BEBÊS

Atrasem ao máximo a introdução de sucos a seus bebês. No mínimo até 1 ano de idade; se conseguirem por mais tempo melhor. Cultivem o gosto dos seus filhos por ÁGUA, a partir do momento que introduzirem outros alimentos além do leite materno, que, segundo a OMS, deve ser oferecido exclusivamente até o 6º mês. Evitem vincular a deglutição de alimentos à ingestão de líquidos. Evitem precocemente estimular a preferência dos pequenos por bebidas saborizadas (mais a frente, facilitará o "querer matar a sede com suco de caixinha ou refrigerante"). Incentivem o gosto das crianças por ÁGUA, esse elemento natural, transparente e divino: assim terão menos alergias, problemas urinários e de pele, constipação intestinal e doenças respiratórias.

PASTORA LUSMARINA: SOBRE ABORTO NO STF

Ando impressionado com o altíssimo nível do debate sobre o aborto que acontece no STF. Debate amplo, sem dogmatismos ou fanatismos - pelo menos de um dos lados -, com argumentos sólidos e precisos. Dessa vez, repercuto as palavras da pastora Lusmarina, que surpreendeu a audiência e foi aplaudida de pé com sua intervenção.  Começou enfatizando: "Gênero não é ideologia; é um instrumental de análise das relações humanas e sociais". Em seguida refutou o principal argumento utiliz ado pelas pessoas que buscam na bíblia razões para se contraporem à descriminalização do aborto, baseado no mandamento "Não matarás". Lembrou que esse mandamento nunca teve caráter universal na escrituras, já que era permitido matar estrangeiros, inimigos de Israel e mulheres adúlteras. A vinculação feita entre o quinto mandamento e o aborto é uma flagrante manipulação do texto bíblico, defendeu. É o patriarcado eclesiástico, aclarou, que quer fazer as mulheres acreditarem que elas se tornam

DÉBORA DINIZ: SOBRE ABORTO NO STF

Tocante, e ao mesmo tempo alarmante, a intervenção da pesquisadora e antropóloga Débora Diniz durante a última audiência sobre aborto no STF. A mesma trouxe dados reveladores da Pesquisa Nacional do Aborto, estudo que ganhou prêmio da Organização Pan-americana de Saúde (OPS) de melhor estudo em saúde das Américas em 2012. O estudo revelou que 1 de cada 5 mulheres, entre 18-39 anos, já fez aborto no Brasil. Dentre essas: 56% é católica; 25% é evangélica. Com as leis atuais vig entes, 4 milhões e 700 mil mulheres brasileiras deveriam estar na cadeia por praticar aborto (mais um exemplo de como as proibições não resolvem nem evitam certas práticas).  A pesquisadora ressaltou o caso de Ingriane Barbosa: jovem mulher negra, trabalhadora doméstica do interior do Rio de Janeiro, que morreu com um talo de mamona entalado em seu útero, numa tentativa desesperada de praticar um aborto clandestino (no Brasil, as mulheres que mais morrem por praticarem abortos são negras e pobres). Ingriane er

PREVENTIVISMO X PREVENÇÃO

O capitalismo fez a gente confundir prevenção com PREVENTIVISMO, e achar que "cuidado com a saúde" significa fazer exames de rotina periodicamente. Nada mais distante da realidade! Esse tipo de assistência médica - impessoal, especulativa - não aumenta a qualidade nem a expectativa de vida da população. Pelo contrário: incrementa gastos, intervenções desnecessárias, gera ansiedade, sensação de hipocondria, medo e insegurança com o futuro.  Precisamos retomar o conceito de dia gnóstico OPORTUNO, no lugar da fantasia do "diagnóstico precoce". A indústria médica criou a ilusão de que é possível diagnosticar doenças antes mesmo de surgirem. Nada mais próximo ao charlatanismo.  As rotinas de check-up estimulam péssimos hábitos de vida ("Vou me permitir continuar comendo porcaria, porque o doutor falou que estava tudo bem com meus exames na última consulta"); e induzem médicos a serem menos assertivos em sua capacidade diagnóstica ("Não se preocupe mu

PRESCREVER E ECONOMIZAR

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Homem de 60 anos, acompanhado rotineiramente, cada 6 meses, pelo cardiologista e pela endocrinologista. Aparência saudável, barriguinha pouco saliente, negando quaisquer eventos cardiovasculares prévios. Em suas prescrições, constavam as seguintes medicações: aval, xigduo, rusovas, ecasil e verapamilo, sendo necessário o investimento de, em média, R$ 250,00 mensais para adquiri-los. Surpreso, dei uma conferida nos seus últimos exames: glicemia de jejum=100; HbA1C=5,5%; colest erol total=110; LDL=48; nada que justificasse tamanho excesso e agressividade.  Propus alguns ajustes rápidos: retiramos o Rusovas (perfil lipídico normal); desprescrevemos o Xigduo (glicemia de jejum igual a 100 antes de iniciar o tratamento; havia sido prescrito para tratar suposto estado de "Pré-diabetes". É mais lucrativo para a pessoa investir em mudanças de estilo de vida e emagrecimento. Encaminhei para a nutricionista e prescrevi atividades físicas); para finalizar, substituímos os remédios d

SEM TERRINHA

Ao despedir as crianças Sem Terrinha ontem no Pavilhão do Parque, quis - emocionado por tudo que havia presenciado ao longo do dia - desejar ao motorista boa viagem. No estacionamento espaçoso, atribulado, dezenas de ônibus e gente afanando com caixas, malas, livros e material de decoração. - Que tenham uma viagem tranquila de regresso. Não deve ser fácil andar com tanta criança. - Rapaz, tinha tempo que não fazia uma viagem tão tranquila e abençoada, disse o motorista, com u m sorriso de aprovação.  “Esse pessoal do MST é muito organizado e disciplinado. Deixaram o ônibus limpinho; nenhum papel no chão. Já viajei com todo tipo de gente: estudante de medicina, grupos de igreja; excursões, formaturas, passeios, e o ônibus sempre termina imundo. Um pessoal mal-educado, sem respeito... Já cheguei a ter de parar o ônibus na PRF pra tirar um jovem bêbado no fundo do ônibus que queria transar de todo jeito com uma menina, à força”.  Nos abraçamos, nos despedimos, dei as costas e pa

VISITA AO MÉDICO COMBATE SOLIDÃO

O contato frequente e exagerado com os serviços de saúde é um tipo de vida social. Como passeios ao shopping, as visitas ao médico "combatem a solidão", e alimentam um poderoso e lucrativo complexo industrial.

QUAL SEU SIGNO

A gente estuda, se organiza, se diferencia, investe em autoconhecimento, faz auto-crítica; viaja, lê pra cacete, problematiza absolutamente tudo, tenta ser interessante, forma opinião, molda o caráter e a personalidade de forma dinâmica e dialética para enfrentar os desafios da vida; pra que chegue uma pessoa no intuito de te "conhecer" e se satisfaça com perguntar: "Qual seu signo?".

SEM DESPERDIÇO DE GENTE

Por um mundo sem desperdício de gente! Mundo onde nenhum ser humano se gaste à toa: em pintar meio-fio de cidade indolente, em plena seca; segurar faixa com promoção de supermercado baixo o sol; entregar panfleto de imobiliária em quebra-mola onde ninguém freia nem abre a janela; vigiar automóveis; esperar atendimento na fila dos hospitais e UPAs, quando seu problema pode ser resolvido na UBS.

ADOECER OU PERDOAR

Seu sonho era ter uma filha; seu grande sonho. Tentou por anos, e ao cabo de uns tantos, cansada já de frustrar-se em hemorragias, absorventes, sangue, decidiu por adotar, tendo a sorte de receber a benção de uma bebê linda, de tão só 2 meses de vida, gestada por uma mulher pobre - conhecida de uma amiga -, sem condições para criar.  Cuidada com carinho e proteção, a menina cresceu, extremamente saudável, e na adolescência, para desgosto da orgulhosa mãe (muito religiosa), mo strou-se inclinada aos afetos homossexuais.  Sem entender como e porquê, a mulher, decepcionada, frustrada, afundou; entregou-se a redemoinhos de culpa e indignação, entrando pela via dos impropérios ao destino e aos Desígnios; até mergulhar de ponta-cabeça no aterro sanitário em que se encontra: obesidade classe III, tabagismo inveterado, depressão e ansiedade, sufocada por remédios, culpabilizada pelo marido, totalmente sem perspectiva; além de hipertensão arterial e diabetes incontroláveis. Mirei-lhe no

BARIÁTRICA

CIRURGIA BARIÁTRICA não muda cabeça nem hábitos; não tira vontade de comer as coisas que você gosta; não faz reeducação alimentar, nao trata compulsão nem ansiedade; não garante emagrecimento para sempre; não garante felicidade.

ENSINAMENTO

Uma práctica clínica de qualidade exige ter compaixão, cortesia, piedade e ternura para com os pacientes e seus familiares, com os colegas de profissão, os superiores e consigo mesmo.

GOSTO

Gosto de gente acanhada, misteriosa; gente que não se acha umbigo, víscera, coração: gente que palpita na pele. Gente que se doa, se desprende, sacrifica, sem barulho. Gosto de gente pouco espaçosa; daquelas que só as bem treinadas percebem a grandeza. Gosto de gente que não teme cicatrizes, que se sente responsável; gente que espera. Gente que deixa falar, que fala baixo, que é toda ouvidos (nada da boca pra fora): gente sem apego a Certezas e Verdades. Gosto de quem se mostra por pedaços, e faz de cada descoberta um nascimento. Gosto de gente com sarcasmo, mais ironia que humor; gente que cheira, que apalpa, aperta, que suspira. Gente que se comunica pelo canto de um sorriso, o movimento harmonioso de seus braços, pelas ondas no cabelo  ou a ponta mais longínqua da sobrancelha:  gente em cujo brilho dos olhos se desvendam segredos.

SEI DOS RISCOS

Sei dos riscos de assumir-me diferentão, o médico do contra, que prescreve ervas e chás, e desprescreve drogas farmacêuticas desnecessárias; que estimula alimentação saudável, consciente, o contato com a natureza, mudanças de hábitos e o autoconhecimento. Sei dos riscos de explorar outras escolas da medicina, como a chinesa, a védica, e de abraçar paradigmas novos, estranhos. Sei dos riscos de posicionar-me contra a indústria farmacêutica, de exames e procedimentos; a indústria do adoecimento e do lucro do sofrimento do outro. Sei dos riscos de fazer um chamado à consciência de cada paciente que atendo, em meio a tantas fragilidades. Sei dos riscos, não adianta alertar-me...

MÃE OU INIMIGO

“Tão saindo uns pelos feíssimos no sovaco dela”. “Saiu uns caroços na vagina também, e fede muito”. “E o chulé, nem se fale; horrível”. Na cadeira do consultório, sua filha, linda: uma criança de 10 anos, no auge de seu constrangimento. Encarei a mãe com semblante de reprovação, examinei a menina; logo enfatizei meu desgosto: - Sua filha tá na pre-adolescência (fase importantíssima do desenvolvimento). Todas essas questões que você trouxe são particularidades do corpo dela; que é perfeito! A gente espera da nossa mãe que nos ajude a ser melhores e a enfrentar nossas dificuldades; não que contribua a piorar nossos complexos. (Até fiquei assustado com a minha reação). A mãe sorriu, sem graça, e fez questão de lembrar que a amava muito. No olhar da menina, entretanto, colhi, de relance, uma pétala de gratidão.

FRUSTRAÇÃO

A experiência educativa mais importante na formação de uma criança é a FRUSTRAÇÃO. Só ela para formar-nos resilientes, fortes e com autoestima, preparados para todos os desafios da vida, e com JUÍZO CRÍTICO: esse freio natural que nos impede de fazer mal ao outro e a nós mesmos. A frustração, por tanto, é a melhor prevenção para as chamadas “doenças mentais”.

MÉDICO DE FAMÍLIA: ÚNICO FORMADO FORA DE HOSPITAIS

Algo que pouca gente talvez saiba, mas o médico de família é um dos poucos especialistas com formação predominantemente FORA DO AMBIENTE HOSPITALAR, treinado, para além de tratar e prevenir as doenças mais comuns e prevalentes, promover saúde e acompanhar o indivíduo saudável, na sua integralidade, ao longo da vida, dentro do seu contexto familiar e comunitário.  Todos os demais especialistas, da pediatra à gineco, o clínico, ortopedista, reumato, endócrino, cardio, etc, são  formados, eminentemente, em ambientes HOSPITALARES, treinados, sobretudo, para lidar com pessoas com DOENÇAS MENOS FREQUENTES, ou que estejam internadas. Essa diferença é extremamente importante. Pois a confusão se dá ao colocarem profissionais com esse perfil de formação, de nível SECUNDÁRIO, hospitalocêntrica, intervencionista, para atuarem na atenção primária, onde prevalece o universo de pessoas saudáveis.  Essa é uma das grandes causas de nossos problemas sanitários atuais e mais complexos, pois, por

COMPRAR SAÚDE

Desconheço atitude mais danosa do que essa: “Estou pagando o plano de saúde todo mês, tenho mais é que usufruir”. NÃO façam isso, pelo amor do bom deus! Saúde não se compra como na prateleira de mercado. Quanto mais consultas e exames desnecessários você fizer, “Só pra saber como você está”, maior é a chance de resultados “falso positivos” e o “descobrimento” de doenças que você de verdade não tem: por acurácia limitada dos testes diagnósticos (nenhum exame laboratorial ou de imagem é 100% confiável. NENHUM!), incapacidade do profissional de correlacionar esses resultados com a sua situação clínica concreta, erros de interpretação e/ou decisão inadequada do médico.

QUEM VAI COORDENAR SEU CUIDADO?

Por que vem crescendo no Brasil importância do Médico de Família em todos os cenários? Pensa comigo. Em meio a tantas especialidades e excessos tecnológicos, quem vai te auxiliar a COORDENAR SEU CUIDADO? O Google?  Quem vai advogar em seu favor, em meio a esse oceano de informações desencontradas, interesses financeiros e corporativos? Que especialidade médica coloca tanta ênfase no princípio hipocrático “Primum non nocere” e na Prevenção Quaternária? Quem vai reunificar sua existência, unir os fragmentos desse modelo de atenção focal, que se excede em protocolos, ignorando individualidades, esquecendo o todo: VOCÊ, e o impacto global de tratamentos e intervenções, no seu contexto familiar, afetivo e cultural? NÓS!!

MENOS REGRAS, MAIS AUTO-CONHECIMENTO

Somos educados para seguir regras: sociais, familiares e, sobretudo, médicas. Pouco se fala, entretanto, da importância do autoconhecimento, da autopercepção e do aprender a sentir-se. Quem nos ensina a escanear diariamente nossa existência? Quanto tempo dedicamos a isso? Um exame de imagem, um raio X ou uma ressonância, substitui a acurácia da autocrítica? O corpo humano é um organismo perfeito, autorregulado, em homeostase constante, sempre em busca do equilíbrio. Muito do  que fazemos atualmente, infelizmente, e grande parte dos remédios que tomamos, vão em contra de mecanismos autorreguladores e defensivos, desenvolvidos e aperfeiçoados minuciosamente ao longo de milhões de anos de evolução. Nenhuma ação interna é sem sentido, ou chegou até aqui casualmente.  Por isso, é essencial dedicarmos algum tempo em entender-nos na profundidade; a perceber nossas variações e nuances: no paladar, olfato, pele, intestino; sensação de fome, sede, temperatura corporal, sono e cansaço. Resp

RACISMO ESTRUTURAL

Na Bahia, criança é impedida de comer na praça de alimentação do shopping por ser preta e pobre. Em Sao Paulo, justiça obriga mulher de 36 anos a submeter-se a uma laqueadura (esterilização cirúrgica) coercitivamente - sem seu consentimento -, por ser preta, pobre, vulnerável e ter 5 filhos. É serio que vocês ainda não perceberam o que move as pessoas nesse país? Nem religião, nem ética, nem moral, nem bons costumes, nem leis, nem princípios, nem nobres ideais! É a idolatria ao poder, bens materiais, fama e dinheiro, junto de um ódio, uma aversão e um nojo sem limites aos indivíduos negros e pobres. Ponto. Sem hipocrisia.

TAPA NA CARA

Cada pessoa que dorme na rua e amanhece morta por causa do frio é um tapa na nossa cara: lisa, apática, patética, estudada, culta; é um tapa na cara da nossa indiferença cotidiana, da nossa pressa por consumir e produzir, e da nossa precária noção de civilidade. É tão grave quanto um suicídio na universidade. Talvez mais. É uma maldição. Porque jamais seremos complemente felizes se não formos por TODOS! É pra isso que chegamos até aqui? Pra descartar seres humanos nas sarjetas das grandes cidades? Tenho asco disso que vocês chamam de sociedade.

A QUEIXA PRINCIPAL QUASE SEMPRE É O MENOS IMPORTANTE

“Que que cê tá sentindo?” “Dor no pé. Às vezes incha”. Tinha 27 anos, pesava 100 kg e seu IMC registrava mais de 40 kg/m2. Examinei, toquei, palpei, mexi, explorei. E nada. Nem sinal que ajudasse. “Você acha que essa dor no pé pode ter alguma relação com seu excesso de peso?”. Foi ouvir essa última palavra - PESO - e desabar feito avalanche. Tampou os olhos e chorou, copiosamente. Maquiagem borrou, olho ficou vermelho; engasgou, soluçou, logo silenciou. “Por que você tá chorando?”, inquiri um pouco surpreso. Trás um longo suspiro nasal, respondeu, renitente, ainda com a cabeça baixa:  “É que ando muito ansiosa”. “Com o quê?”, insisti. “Meu filho tá com suspeita de autismo, perdi meu emprego recentemente e tô com muita saudade da minha mãe”. “Onde ela tá?”. “No Piauí”. “E seu pai?”. “Não conheci. Na verdade, nem conheci minha mãe. Essa que tá no Piauí é minha avó, que me criou. Aqui em Brasília, tô morando de favor na casa de uma tia, que, pra variar, tá brav

MEDICINA DE FAMÍLIA

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Tem muita gente que ainda fica confusa com esse negócio de medicina de família. “Você é clínico geral é?”; “Você é especialista em quê mesmo?” Então... Como te explico?  Nós somos especialistas nos problemas mais comuns do cotidiano, que afetam sua saúde, de sua família ou comunidade; nos agravos corriqueiros, no contexto da atenção primária. Nós somos a porta de entrada do sistema, e coordenamos  seu cuidado, tentando evitar excessos, perda de tempo e danos desnecessários.  A gente também gosta de fortalecer o vínculo, conhecer a pessoa, o que ela pensa, como sente, o ambiente e as circunstâncias onde ela se desenvolve: assim temos mais ferramentas para conseguir ajudar, com menos chances de erros. Atendemos indivíduos, sem distinção de sexo, gênero ou idade, em todas as fases da vida, e nos esforçamos para ser um dos membros de confiança da família. (Na foto, um sonho que se materializa, de uma equipe de saúde da família misturada com docência: a residente de Medi

BEBÊ SENTE CALOR

Pergunta de uma mãe durante o atendimento domiciliar: “Bebê sente calor?” (criança com body, casaco, manta grossa, touca, luvas, meias de lã, às 11 da manhã, em plena Samambaia tropical).

INVASÃO DE ESPAÇO

Não tem como se relacionar de verdade com ninguém sem invadir seu espaço, sem perturbar, incomodar, e até ser inconveniente. Essa noção urbana protocolar nos isola (problema grave em Brasília, cidade dos palácios e não-me-toques); essa noção bancária, empresarial, burocrática da existência nos desumaniza, e é caldo de cultivo para solidões e depressões. Vamos ser menos educados, protocolares, e ser mais carinhosos (daqueles chatos)? Vamos romper as barreiras de proteção, as linhas de defesa que o outro é levado a construir, e simplesmente pedir um abraço, e sorrir das angústias da vida em conjunto? Vamos gritar o nome da pessoa pela janela? Vamos aparecer de surpresa? Vamos abandonar o “Tá podendo falar?” e apenas ligar (vai que a pessoa, mesmo ocupada, só precise ouvir sua voz pra se animar?).

BANHO DE SOL

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Fosse em qualquer outro lugar do universo, seria um corredor. Mas, ali, na samambaia do avô roriz, era casa, e habitada por cinco almas; minúscula, imprensada, três cômodos, divididos por paredes branco-cal; sem portas. Num berço doado, uma bebê de dois meses, recém de alta do hospital: passara 30 dias internada por quadro de bronquiolite e pneumonia. Grave. No chão, colchão roído, colchas emaranh adas, pertences diversos, sem móveis. Da janela, vista do barraco ao lado, sem chance de circulação. À memoria veio-me, imediatamente, a imagem de uma paciente que atendi anos atrás no quarto do fundo: caquética, pálida, lúgubre, tripas de fora, vítima de avançado de câncer de intestino. Pedi licença para pegar a bebê no colo e leva-la até a calçada; sentia que precisava de ar. Dentro permaneceram a enfermeira e o agente de saúde orientando a mãe, sobre a necessidade de melhorar o ambiente para a criança. Mas, como? Fazia um vento frio, mas o sol brilhava imponente – à nossa esp

ORÁCULO DE DELFOS

O melhor remédio, segundo o Oráculo de Delfos:  “conhece-te a ti mesmo”

TRATAR OU CURAR

Tratar é uma coisa; curar é outra! No primeiro caso lidamos com um sistema orgânico que não funciona bem. No segundo, com um ser humano que sofre.

GREVE DE CAMINHONEIROS E SOCIALISMO

São argumentos frequentes que se usam contra o Socialismo: “É só escassez; tudo falta”. “A economia não funciona; nada presta”; “Socialismo é ineficiente porque não consegue garantir um nível de consumo adequado para a sua população!”.  Estão vendo? Basta uma greve de caminhoneiros, por exemplo, para a economia de um país parar, e começarem as afetações no cotidiano das pessoas: filas nos postos de gasolina, desabastecimento de produtos, corre-corre para comprar.  Hoje tivemo s a oportunidade de apreciar na pele – uma pincelada – a realidade de um país sabotado diariamente por quem detém os MEIOS para movimentar a economia.  Imagina agora essa situação ao longo do tempo: 10 ou 30 anos... Imagina a realidade cotidiana de um país quando amplos setores da economia e grandes fábricas estratégicas decidem parar de funcionar. Imagina a realidade de um país vítima de sanções e bloqueios econômicos por parte de nações poderosas, que controlam a macro engrenagem do mercado global. Imagi

RIM INJUSTIÇADO

Se tem um órgão que é injustiçado, caluniado e difamado todos os dias é o rim. Não pode aparecer qualquer dor nas costas que a gente vai logo maldizendo o cidadão. Coitado. Na imensa maioria das vezes, dor nas costas é consequência de problemas posturais, musculares, cansaço, tensão ou estresse. Reclamar dos rins pra qualquer dor nas costas é tipo bater panela achando que o problema é a Dilma...

SER ESTÉTICO

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O ser humano não é um animal racional, é um ser estético; estou cada vez mais convencido disso. A gente valoriza muito mais a estética do que o conteúdo. Não importa se monarquia é algo medieval, antidemocrático; não importa o estrago que a Inglaterra fez durante a época da colonização, na África e no Caribe. Não importa a escassa contribuição desses países super desenvolvidos ao crescimento dos mais atrasados. O casamento foi lindo!!! Cheio de simbolismos! Que país charmoso, branco  e civilizado  😍 Não importa que Cuba seja uma ilha pobre e bloqueada, ex-país colonizado, e ainda assim consiga garantir moradia, alimentação, educação, saúde pública e universal de alta qualidade para todos seus habitantes. Não importa a contribuição e a solidariedade de Cuba para com outros países e povos explorados. É socialismo, é feio, é negro, é atrasado, é ditadura... 

SOBRIEDADE COMO REMÉDIO

Ando cultivando a política da sobriedade: menos bagagem, menos frivolidades, menos empenho em sustentar personagens; menos consumo de coisas, menos objetos com que me preocupar. Tem sobrado mais tempo e energia para dedicar a quem amo, a quem se importa comigo, a quem me quer por perto, a quem precisa de ajuda; aos amigos e familiares.

AMOR NÃO CORRESPONDIDO

Esquece pressão, colesterol. O que ferra o coração é medo, estresse, dívida, decepção e amor não correspondido.

ASMA E COCA-COLA

Alimentos processados e ultraprocessados causam rinite, sinusite e asma. 56% das crianças bebem coca-cola antes de completarem 1 ano de idade

BAILOTERAPIA

Só acredito em medicina que mobilize o melhor de nossas energias, o otimismo, a confiança e a autoestima em função do processo terapêutico.

CAMINHAR GAGUEJANTE

De um falar por pedaços, gaguejante – com pausas de vários segundos que deixam o interlocutor suspenso no ar –, vinha, nos últimos meses, apresentando piora considerável do seu quadro de dor nas costas, sobreposto a uma dor tipo fisgada na porção superior da perna direita, que quase não o permitia deambular.  Havia consultado com um especialista em coluna - engraçado como encheu a boca para falar essa palavra: E-S-P-E-C-I-A-L-I-S-T-A -, quem havia simploriamente diagnosticado  hérnias de disco a nível de L3-L4 e L4-L5, ha 9 anos, e desde então havia lhe proposto tratamentos variados, sem resultados satisfatórios. Vinha tomando gabapentina, anti-inflamatórios e outros analgésicos opióides potentes, mas a dor e a impotência funcional só pioravam, impossibilitando-o já para o trabalho, pelo que propuseram-lhe uma cirurgia na coluna, a realizar-se em algumas semanas…  Ao final de uma das sessões de acupuntura que propus, sua forma de caminhar ao despedir-se intrigou-me. Mancava, de u

VIRAR GRILO

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Às gargalhadas, uma paciente acaba de me contar. “A vizinha lá me falou:  - Doutô Sabino só passa remédio de mato”. - Então tu vai virar é grilo, falei pra ela”. 😅

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Gostaria de pendurar um quadro com essa mensagem, em caixa alta, em todas as salas dos hospitais obstétricos: OMS não recomenda o uso de ocitocina para estimular contrações e pede que grávidas de baixo risco sejam estimuladas a caminhar, receber massagens e autorizadas a comer; recém-nascidos devem ficar sem banho por 24h e nunca serem separados de suas mães.

SÉCULO SEM ÂNCORAS

Ansiedade e depressão são as novas epidemias, desse século cada vez mais atribulado e sem âncoras. Âncora, costumo dizer, é tudo aquilo que nos mantém presos ao presente. Sem ela, nossos pensamentos simplesmente saem voando, feito balões de hélio, incapazes de prender-se a qualquer galho, qualquer tema; desamarrados, espontaneamente flutuam, rumo ao passado ou ao futuro, diminuindo nossa capacidade de concentração e aprendizagem, favorecendo ansiedades. Ao contrário do que s e crê, nossa psique, assim como nosso corpo, também precisa de limpeza, para não ficar bagunçada, desorganizada, cheia, entulhada. Mente sempre ocupada, pensante em excesso, debilita-se, enfraquece o ego, favorecendo influxo da libido e reativação de conteúdos inconscientes, que traz à tona traumas, medos e emoções negativas reprimidas, colocando-nos em sensação de fadiga, insegurança, apreensão e tristeza constantes. A modernidade urbana, de forma assustadora, paradoxal e voraz, vem-nos roubando tudo quanto

INSS

“Preciso de outro relatório, doutô; pra dar entrada no INSS. Já combinei com o adevogado. Vou fazer outra perícia. Tentar, né. Vai que dá certo”. “Quanto ele cobra?”. “Se for aprovado o benefício, e eu ficar encostada, ele fica com 30% do meu salário durante um ano”. [48 anos, com queixa de dor nas costas, e uma ressonância revelando pequenas hérnias de disco na coluna torácica e cervical, sem repercussão neurológica]. “Ou melhor, vou aproveitar esse ano eleitoral; vou ver se arrumo algum político pra me ajudar. Vacilei de não ter feito isso enquanto era funcionária daquela empresa do estado”. (Eu achando que a gente ia amadurecer depois de tanto golpe)

SOBRE CULPABILIZAÇÃO DE VÍTIMAS

Uma adolescente - criança, melhor dizendo -, de 15 anos, sétimo ano do ensino fundamental, grávida de 10 semanas. Voltara do Maranhão recentemente, onde conheceu um rapaz, de 19, com quem foi morar ao chegar em Brasília, a contragosto de seus pais. Com ele, teve sua primeira relação sexual. *** Uma senhora, de 67 anos, com diagnóstico de síndrome do pânico e transtorno psicótico, tabagista inveterada, condenada eternamente ao uso de drogas psicoativas e ao rótulo de maluca, desajustada e antissocial. Seus problemas tiveram início após agressões sofridas por seus dois maridos, que bebiam, a perseguiam e a espancavam, em algum lugar do interior do Maranhão. *** Um edifício, de 26 andares, em chamas, desaba, em pleno centro de São Paulo, com centenas de famílias em seu interior que não tinham onde morar (um direito básico garantido pela constituição). Mortos, dezenas de feridos, desaparecidos.  Manchetes de jornais, transeuntes comuns, e aposentados em suas casas, apressam-se

1 DE MAIO DE TEMER

É triste acordar pra trabalhar, depois do 1 de maio - DIA DO TRABALHADOR - num país com 13 milhões de desempregados, milhões de pessoas em subempregos ou na informalidade, com apenas 33 milhões de trabalhadores com carteira assinada, em uma massa superior a 100 milhões, cujas conquistas e direitos estão sendo usurpados, por um governo ilegítimo, corrupto e irresponsável, com o apoio da mídia empresarial, com o supremo, com tudo...

SOBRE O SUS

1- É o maior sistema de saúde gratuito e universal do mundo. 2- 70% da população brasileira depende exclusivamente dele. 3- Responsável por 98% da vacinação no país. 4- Tem o maior modelo público de transplantes de órgãos do mundo. 5- Mais de 90% dessas cirurgias são financiadas por ele, incluindo exames pré-operatórios e medicamentos pós-transplante. 6- Oferece assistência integral e gratuita para portadores de HIV, doentes de Aids, renais crônicos, com câncer, tuberculose e hanseníase. 7- A média de cobertura da Estratégia de Saúde da Família chega a 65%. 8- Especialistas são unânimes em citar o subfinanciamento crônico como principal entrave para melhorias. 9- A taxa do gasto público com saúde no Brasil é um pouco mais que a metade da média mundial (6,8% contra 11,7%). 10- A situação deve piorar com a EC 95, aprovada em 2016, que congela e estabelece um teto de investimentos públicos pelos próximos 20 anos. O SUS, uma das principais conquistas históricas do

ACAMPAMENTO TERRA LIVRE

Trabalhei três anos no delta do rio Orinoco, como médico em comunidades indígenas da etnia warao. Tenho para mim como uma das experiências mais incríveis da vida. Foi onde fiz-me gente, costumo dizer; onde, por vez primeira, conduzi partos sozinho, para tempos depois ser orgulhosamente escolhido como padrinho da criança (Dioscar, ainda lembro seu nome).  Todos os dias fazia um esforço colossal na tentativa de comprender a concepção de mundo daquela gente: idioma, hábitos, ref erências geográficas, noção de família, formas de adoecimento e sua misteriosa relação com a cura. De certa forma, produzia-me grata frustração a certeza de nunca conseguir aproximar-me nem um pouco desse objetivo. Uma palavra do seu idioma nativo provocava-me simpatia: maraisa, tradução de amigo, que em sentido literal quer dizer coração do outro; e o fato de preferirem, antes de trazerem seus doentes até mim, consultar com o wisidato - o xamã curandeiro da comunidade, que os envolvia em densas cortinas de

BRASÍLIA

Brasília é um sonho, uma epopeia, e continua sendo a promessa de El Dorado para muita gente; pelo menos para mim. Brasília é projeto, de futuro e esperança, num país-porvir que ainda hemos de construir. Há quem more aqui, principalmente nas mal denominadas satélites, e diga não sentir-se parte da cidade, preterindo seu nome no lugar de DF. Eu discordo diametralmente dessa falsa dicotomia e politização.  O uso da palavra Brasília consagra-se já por todos os habitantes do quadr ado para referir-se ao todo, ainda que as elites econômicas pretendam absorvê-la somente para a parte da cidade onde moram. Para reforçar esse preconceito, tentam impor o conceito de “cidade satélite” para as Regiões Administrativas fora do Plano Piloto, muitas delas fundadas antes mesmo da inauguração da capital. Não existem cidades satélites; existem Regiões Administrativas (RA), de um único distrito-município-estado-capital. Segundo os linguistas, o uso oral das palavras deve ser respeitado pelo que é,

COMO CHEGAR AO DIAGNÓSTICO

A maneira menos dispendiosa de chegar ao diagnóstico é o médico envolver-se por completo na plena presença humana

EXECUÇÃO DE MARIELLE

Pela manhã, um de meus tantos pacientes foi meu pai: quatro dias de dor de garganta, fraqueza, mialgia e rouquidão. Implorava por uma medida drástica, pois já não suportava estar impossibilitado de engolir saliva, nem sentir tanta dor. “Quero uma injeção”, disse em tom seco. Pela primeira vez em meus 30 e poucos anos, o vi realmente debilitado, vulnerável, e que confiasse sua melhoria em meus cuidados provocou-me profunda satisfação. Simplesmente senti que todos os sacrifício s, perseverança, acertos e erros cometidos até ali, finalmente tinham valido a pena. (...) Pela tarde, um pivete ingressou à unidade de saúde correndo, ofegante, com cara de pânico, extremamente pálido e desorientado. Por um momento pensei que fosse alguém tomado por surto psicótico, pois andava só e alegava que perseguiam-no para matá-lo. Um minuto depois, uns cinco brutamontes, salivando desespero, entraram pela mesma porta, descobriram-no na sala onde torpemente se refugiara e arrastaram-no para fora

PESO DA PALAVRA

Alguns médicos ingnoram a influência de suas palavras na produção da dor e no agravamento da doença de seus pacientes

MÉDICO NÃO É BICHO-PAPÃO

Gente. Parem de querer assustar as crianças usando situações relacionadas à saúde, tipo vacina, injeção, consulta médica. “Se você não se comportar vou te levar pro doutor te passar uma injeção!”. Quê isso gente?! Nós somos bonzinhos e estamos aqui pra ajudar. Arrumem outros monstros para auxiliarem vocês nessa tarefa: bicho papão, véi do saco, cuca, vampiro, Temer-Drácula...

A QUEM ME DEVO

Ao contrario dos que me acusam, nunca dependi do Petê nem do Lula para chegar onde cheguei. Se a alguém me devo, é à minha mãe, meu pai, meus irmãos, minha família e à Revolução Cubana, graças a quem fiz-me médico e me tornei um ser humano maior. Sou herdeiro da diáspora que amalgamou a trajetória desse país: avô cearense, retirante, candango construtor de Brasília, quem, em uma épica travessia de 16 dias em pau-de-arara, teve a coragem de trazer minha vó com meu pai de dois  anos nos braços para a capital, lá pela década de 50; pai que transitou de engraxate a vendedor de frutas e pipoca, aos pés da catedral, até se transformar em servidor concursado da Câmara Federal.  Nunca senti vergonha da minha historia, que é mais bem motivo de orgulho, compromisso, gratidão e lealdade.  Muitos dos que se beneficiaram com as políticas públicas do governo Lula, hoje comemoram sadicamente sua prisão, sem perceberem seu papel manipulado de auto-traição, contra seus próprios interesses. Lu