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síntese biográfica

PERCURSO

Nascido em Brasília, criado e habitante de Taguatinga. Talvez os surpreenda, mas nunca sonhei com ser médico. Quando adolescente, demonstrava maior interesse pelas ciências exatas, tanto que prestei meu primeiro vestibular para a carreira de engenharia de redes. Não consigo ainda identificar os motivos exatos que me levaram a tal, mas, dois meses após concluir o ensino médio, aceitei, sem titubear, o desafio proposto por meu pai de estudar medicina em uma ilha do Caribe - com 17 anos -, através de uma bolsa de estudos integral oferecida pelo governo cubano por meio de sua embaixada aqui no Brasil, graduando-me como médico pela  Escuela Latinoamericana de Medicina  no ano 2010. Depois de formado, com muita disposição, mas ainda repleto de incertezas (e, confesso, sem muita vontade de regressar ao Brasil), optei por ir para a Venezuela trabalhar como médico do Batalhão 51 ,  vinculado ao programa de residência em Medicina de Família e Comunidade (lá denominado Medicina General Integra

NUTRIÇÃO NÃO É MATEMÁTICA

Não são as calorias dos alimentos que importam. Não é o balanço energético. Nutrição não é matemática reducionista; é biologia. São as informações que trazem os alimentos e as interações que estabelecem com a nossa micróbiota e nossa carga genética. As mesmas 250 calorias de um refrigerante e as de um prato de feijão com arroz e brócolis dialogam de formas absolutamente distintas com nosso organismo, seja pela via metabólica que ativam, seja pelos genes que expressam. Alimentação não é somente energia, é informação! Você pode até se iludir escrevendo "Tá pago" no espelho da academia, mas teu organismo sofre e adoece silenciosamente com as porcarias que você empurra pra dentro diariamente.

SAÚDE-QUIMERA

Século 21 fez da saúde uma quimera. É tanta indústria lucrando com nossa tragédia... alimentícia, farmacêutica, médica, química, militar, cosmética, estética, moda, medo, armas, publicitária, agro-tóxica, pecuarista-hormonal... Além da malévola indústria do aceleramento de tempo: que nos mantém afogados em projeções de futuro, e faz do presente um trânsito inconsciente, angustioso, amnésico.

MOURÃO, MOURÃO

Medicalização da sociedade avança de forma preocupante: crianças de 7, 8 anos são levadas ao médico ou ao dentista para extração de dentes de leite. Gente... É sério isso? Vamos continuar com a história da fada do dente... Amarrar uma linha no dente mole e puxar fazendo tração com a porta do quarto... deixar a própria criança arrancar com o dedo e se sentir corajosa... Jogar o dente caído no telhado e pedir: "Mourão, Mourão, pega esse dente podre e me dá (um emprego de assessor especial no Banco do Brasil?) outro são!!!"

TFP

Queixas no acolhimento: cefaléia, tontura e dormência nos braços. PA: 160/95 mmHg. Medicamentos em uso: atenolol e hidroclorotiazida. ...No consultório, primeira pergunta:  - Como foi o final de ano da senhora? Imediatamente. Pranto... "Só descobri quando ele já tava em Caldas Novas com a outra. Quando voltou, foi logo dizendo que queria se separar e que era pra eu passar tudo pro nome dele. E que se eu não fizesse o que ele mandava, a coisa ia feder", fazendo bico e arregalando os olhos, pondo ênfase no FEDER...  Em seu casamento anterior, havia sido deixada com quatro filhos, após 25 anos de convívio; do relacionamente atual: 13 anos jogados pro ar, com direito a descoberta de amante no brilho estrondoso dos fogos da virada. (Cada história de vida me ajuda a reclamar menos da minha) Em tempo... Viva a Família Tradicional Brasileira!

GINECOLOGIA PATRIARCAL

Depois descobri que tudo isso acontecia precocemente, desde cedo, antes e logo após suas primeiras regras. Nem tempo tinham elas de saber direito o que acontecia: levadas ao médico por suas mães, já saiam com prescrição de hormônios para "regular o ciclo" e evitar gravidez. Na visão higienista de alguns médicos, menina pobre tem de tomar anticonceptivo desde cedo pra não ter filho. "As pessoas são pobres porque têm essa carrada de filhos!", argumentam. Mas, não seria ao contr ário? Desse jeito, como aprenderão a reconhecer sua ovulação? Parece que mulher pobre vem até perdendo direito de escolher se pretende ou não ter filho. Com indiferença e preconceito, são colocadas no mesmo pacote de "começam tudo cedo essas meninas pobrezinhas..." Nosso reducionismo e desconhecimento da realidade é tão homérico! Como se castrar e esterilizar todas as minas fosse transformar o Brasil num país de Primeiro Mundo (só serviria para aumentar nossa solidão e decadência, pe

MENSTRUAÇÃO NEGATIVADA

Tenho feito o exercício nas consultas de perguntar às meninas de 9, 10 anos, e às adolescentes de 11, 12, 13, quê visão elas têm da sua própria menstruação. De forma praticamente unânime respondem que não sabem muito bem como funciona, que não gostam, acham ruim, sujo, incômodo, e sentem vergonha, constrangimento... Em que momento essas meninas-crianças interiorizaram visões tão negativas sobre suas existências? Quê influência tem nisso as mulheres que antecederam e circundam  essas meninas? Como interfere a cultura, a sociedade e a religião na forma como essas meninas irão vivenciar seus ciclos de fertilidade, a menstruação e sua sexualidade? Precisamos quebrar essa cadeia de sofrimento condicionado imposto às mulheres na raiz: deixar de sugestionar negativamente as meninas e prepará-las sempre para o pior; impôr cargas afetivas positivas e encantadoras em torno da magia sagrada e purificadora que é tornar-se mulher fértil que menstrua, capaz de gerar outra vida humana. Aí começa o c

OSTEOMIELITE

Em chão duro, sobre papelão, dormia a menina em seus ingratos sete anos. Um brejo, era a descida do Primavera onde jazia o barraco de madeirite. Seu pai, militar, era a encarnação do diabo na terra: rude, perverso, mulherengo, beberrão, grotesco. Por mais que de dor gritasse a menina - de dia, de noite, criada sem mãe -, o pai não atendia, a mandava calar. Passaram meses, até o cansaço de seu irmão com a ladainha dolente repetida, dia traz dia, montar-lhe na garupa de sua bic icleta e levá-la até a emergência do HRT. Rapidamente internada, com assombro da equipe de plantão. Permaneceu mais de um ano na enfermaria, tempo requerido para salvar-lhe a vida e a perna esquerda combalida por uma profunda infecção.  Aos 10 anos saiu de casa para morar com uma irmã mais velha; logo conseguiu morada como empregada doméstica em casa de família “gente boa” perto da Comercial. Apesar do acompanhamento que realiza no Sarah, de ter ficado com uma perna um pouco maior que a outra, de mancar en