BRASÍLIA
Brasília é um sonho, uma epopeia, e continua sendo a promessa de El Dorado para muita gente; pelo menos para mim. Brasília é projeto, de futuro e esperança, num país-porvir que ainda hemos de construir.
Há quem more aqui, principalmente nas mal denominadas satélites, e diga não sentir-se parte da cidade, preterindo seu nome no lugar de DF. Eu discordo diametralmente dessa falsa dicotomia e politização.
O uso da palavra Brasília consagra-se já por todos os habitantes do quadrado para referir-se ao todo, ainda que as elites econômicas pretendam absorvê-la somente para a parte da cidade onde moram. Para reforçar esse preconceito, tentam impor o conceito de “cidade satélite” para as Regiões Administrativas fora do Plano Piloto, muitas delas fundadas antes mesmo da inauguração da capital. Não existem cidades satélites; existem Regiões Administrativas (RA), de um único distrito-município-estado-capital.
Segundo os linguistas, o uso oral das palavras deve ser respeitado pelo que é, pois responde a uma necessidade, carregada de sentido e significado. Quando dizemos Brasília, nos referimos sempre ao todo, não somente ao Plano Piloto. Brasília é DF. Não vejo sentindo para não tomar isso como uma verdade consolidada. Ninguém, em nenhum ponto da cidade, diz: “vou pegar o metrô para Brasília”. Diz: “nos encontramos na Rodoviária; nos vemos naquele barzinho da Asa Norte; a manifestação vai ser na Esplanada”.
Não reivindicar Brasília como sinônimo de DF é, a meu ver, trair os anseios de nossos ancestros candangos, que deixaram sangue, sacrifício e suor naqueles eixos, pilotis e monumentos; mesmos precursores que construíram Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Ceilândia, Samambaia, à procura de uma vida mais próspera para seus filhos e seus amores. Brasília é patrimônio da HUMANIDADE e ninguém pode tirar isso da gente.
Poderosos e endinheirados pretendem sempre fabricar guetos, geográficos e mentais, no intuito de afastar os pobres dos centros das cidades. Impõem uma espécie de complexo de inferioridade marginal para impedir que esses participem da vida pública e estejam nos espaços considerados privilegiados.
Por isso, acompanho, participo e apoio os movimentos de ocupação de terrenos improdutivos, abandonados e espaços públicos esquecidos da cidade, como vem acontecendo no Sol Nascente e no Setor Comercial Sul, protagonizado por diversos coletivos e organizações populares.
Brasília precisa dar um salto territorial integrativo, com todos os seus defeitos e potencialidades, respondendo à sua inata vocação cosmopolita. É urgente exigir um melhor transporte público, assim como serviços e infraestrutra de qualidade para toda a população, independente da RA de resistência.
Sair dos guetos onde pretendem silenciar-nos e disputar os espaços da cidade, com qualidade, arte, cultura e intervenção política, é a maior afronta que podemos fazer ao sistema, e a maior contribuição à memória histórica de nossos heróicos antepassados.
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