SÉCULO SEM ÂNCORAS

Ansiedade e depressão são as novas epidemias, desse século cada vez mais atribulado e sem âncoras. Âncora, costumo dizer, é tudo aquilo que nos mantém presos ao presente. Sem ela, nossos pensamentos simplesmente saem voando, feito balões de hélio, incapazes de prender-se a qualquer galho, qualquer tema; desamarrados, espontaneamente flutuam, rumo ao passado ou ao futuro, diminuindo nossa capacidade de concentração e aprendizagem, favorecendo ansiedades.
Ao contrário do que se crê, nossa psique, assim como nosso corpo, também precisa de limpeza, para não ficar bagunçada, desorganizada, cheia, entulhada. Mente sempre ocupada, pensante em excesso, debilita-se, enfraquece o ego, favorecendo influxo da libido e reativação de conteúdos inconscientes, que traz à tona traumas, medos e emoções negativas reprimidas, colocando-nos em sensação de fadiga, insegurança, apreensão e tristeza constantes.
A modernidade urbana, de forma assustadora, paradoxal e voraz, vem-nos roubando tudo quanto sempre nos serviu de âncora e higiene mental; coisas simples, que parecem irrelevantes, mas que realmente fazem muita diferença. 
Tempo para comer devagar, por exemplo, em família; deitar na rede com as crianças, e simplesmente cantar; repousar sob a sombra de uma arvore; dormir e praticar o ócio improdutivo, sem culpas; ouvir seu nome de surpresa em um grito pela janela, escrever cartas ou passar horas ao telefone com a pessoa amada; jogar conversa fora, contar historias, conversar, acompanhando as reações faciais e corporais do interlocutor; ler um livro, praticar esporte, escutar ou fazer música; assistir uma apresentação teatral; exercer o poder criativo do trabalho, de forma plena, sem explorações. Exercitar a expressividade artística, sem pré-condições. Vivenciar todas as emoções e afetividades, sem repressões; ser quem a gente quiser, sem opressões e preconceitos.
Demorar-se num abraço, peito com peito; fundir-se no olhar de alguém, sem a interferência de telas e aparelhos. Transar, beijar na boca, sem pressa. Rezar, meditar, no escuro, e conectar-se profundamente com a divindade. Escutar conselhos de pessoas mais velhas, sábias. Participar de rituais, em comunidade, e dar significado a cada coisa que fazemos; colher frutas no quintal, semear, plantar, cuidar de bichos, pescar. 
Solidarizar-se. Ajudar o vizinho...
Evitemos cultivar o egoísmo, o individualismo, o isolamento, a baixa autoestima e a competitividade que o sistema nos impõe!
Essas armadilhas enfraquecem nossa psique.
Vamos nos ajudar!
Vamos nos amar!
Vamo chegar junto!

Vamo se amar, do jeito que somos!
Esse é o melhor remédio para o resgate de nossa (cada vez mais) ameaçada saúde mental.

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