TRISTEZA NO PULMÃO
Rapaz novo, auxiliar de serviços gerais. Na primeira consulta, para uma dor irritante nas costelas, que vinha sentindo ha alguns dias, passaram somente uma injeção.
Na segunda: anti-inflamatórios e repouso. Procurou a emergência: raio X de tórax, e mais injeções. Nada dava jeito na dor, que não se acompanhava de nenhum outro sinal aparentemente importante. Preocupado, consultou com o psiquiatra: tomografia de tórax e analgésicos; no retorno: amitriptilina.
Quando chegou até mim, dialogamos: olhos fundos, abatido. Perguntei...
“Começou depois que minha esposa saiu de casa e levou minha filha pra morar com ela”.
Havia emagrecido. Não conseguia dormir direito, nem mais jogar bola: a dor, que era como um aperto lancinante, seguia-o em todo lugar, e piorava ao respirar. Contou-me detalhes...
Propus então uma abordagem pela acupuntura: finalmente dormiu, e relatou certo alívio da moléstia (na medicina chinesa, o pulmão é o órgão tributário da tristeza e da melancolia).
Tempos depois, acostumado e conformado já em conviver com a dor, que hora piorava, hora melhorava, sem muita explicação, conversou com a esposa, calmamente, e finalmente reataram. Voltaram a morar juntos. Podia novamente levar sua filha de 5 anos todo os dias ao colégio, como sempre fazia.
A dor, que tanto mal lhe havia feito, e tanta dúvida suscitado, despretensiosamente, de pronto, simplesmente desapareceu, do mesmo modo como havia surgido: como um raio numa tormenta.
E o céu se despejou, e voltou a jogar futebol, e a sorrir de piadas prontas, e até a correr, todos os dias, no parque, sempre ao entardecer
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