LOW CARB

Tudo começou no EUA, com a publicação do livro "A Dieta Revolucionária do Dr. Atkins" (1) em 1972, que inaugurou um potente e profícuo mercado em torno da obesidade e dos suplementos nutricionais.
Um estudo financiado pelo Centro Atkins em 2002 colocou à prova essa inovadora dieta. Investigadores testaram a dieta Atkins em 51 pessoas obesas. Após 6 meses, 41 sujeitos perderam em média 9 kg e seus níveis médios de colesterol no sangue diminuíram levemente. Devido a esses resultados, apresentaram o estudo como uma evidencia real e científica de que a dieta era efetiva e segura. 
Durante o estudo, os participantes foram submetidos a uma dieta de restrição calórica, de 1.450 calorias diárias, com base a alimentos de origem animal e gorduras. Isso significa que consumiram 35% menos calorias que a média de consumo do cidadão norte-americano (2.250 calorias/dia naquele momento). É claro que se qualquer pessoa ingere 35% menos de calorias diárias perderá peso e seus níveis de colesterol descenderão a curto prazo. A questão fundamental, que não foi comprovada por esse estudo nem pelos posteriores, é avaliar o efeito supostamente benéfico dessas dietas, restritivas, com baixo conteúdo de carboidratos, a longo prazo, sobre a saúde integral do individuo. 
Pouco se fala, entretanto, que nesse mesmo estudo os investigadores do Centro Atkins afirmam: "em determinado momento de um período de 24 semanas, 68% dos sujeitos sofreram constipação intestinal, 63% tiveram problemas respiratórios, 51% se queixaram de enxaquecas, 10% advertiram queda de cabelo e uma mulher informou que suas menstruações eram mais abundantes. Observaram, ademais, que os sujeitos que seguiam a dieta registravam um aumento considerável (53%) da quantidade de cálcio excretado pela urina, o que pode representar um verdadeiro desastre para a saúde dos ossos e favorecer cálculos renais.
Opiniões diferentes sobre as dietas com baixo conteúdo de carboidratos foram publicadas por um grupo de investigadores na Austrália (3), que conclui: há varias complicações que podem estar vinculadas a uma ingesta restrita de carboidratos a longo prazo, entre elas as arritmias cardíacas, deterioro da função contrátil do coração, morte súbita, osteoporose, disfunção renal, maior risco de câncer, deterioro da atividade física.
Mas a dieta não é o único que recomenda Atkins. Na realidade, a maioria dos livros para emagrecer são só uma parte de um enorme império econômico sobre saúde e alimentação. No caso da dieta Atkins, este afirma que muitos pacientes precisam de suplementos nutricionais, alguns dos quais se utilizam para combater os “problemas normais de toda pessoa que está de regime” (4). Em um parágrafo do livro, Atkins escreve: acrescente vitanutrientes, pois mitigam os diversos problemas que enfrentam meus pacientes, e verás porque muitos deles tomam mais de 30 comprimidos de vitaminas ao dia...
São sobradas as evidencias de que o consumo de proteínas de origem animal aumenta o risco das doenças tipicamente ocidentais: infarto do miocárdio, AVC, obesidade, calculo renal, osteoporose, diabetes, câncer (principalmente de próstata, de cólon e de mama, os mais comuns entre ambos os sexos). 
Dr. Colin Campbell, um dos maiores inimigos das dietas Atkins (low carb-paleo), defende em seu estudo: "a dieta que confere maior proteção sobre o excesso de peso, câncer, infarto, é aquela fundamentada nos cereais integrais, vegetais, hortaliças, frutas e verduras, com baixo conteúdo de proteínas de origem animal e gorduras. Ele demonstra que o excesso de consumo de proteínas animais é a principal causa do aumento do câncer entre as culturas que seguem os padrões norte-americanos de alimentação (lácteos-ovos-carnes).
[Recomendo a revisão do “The China Study”, o maior e mais longo estudo já realizado no mundo, organizado de forma conjunta pela Universidade de Cornell, a Universidade de Oxford e a Academia Chinesa de Medicina preventiva, que durou 20 anos e produziu mais de 8 mil associações estatisticamente significativas entre diversos fatores da dieta e as doenças] (5).


(1) Atkins R. C., Dr. Atkins’ New Diet Revolution. Nova York, NY. Avon Books, 1999. 
(2) Westman E.C., Yanci W.S., Edman J. S., el al. “Carbohydrate Diet Program”, Am. J. Med. 113 (2002): 30-36.
(3) Bilsborough S. A. e Crowe T. C., “Low-carbohydrate diets: what are the potential short- and longterm health implications?”.
(4) Atkins, 1999. Pagina 275.
(5) The China Study, Campbell.

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