GINECOLOGIA PATRIARCAL

Depois descobri que tudo isso acontecia precocemente, desde cedo, antes e logo após suas primeiras regras. Nem tempo tinham elas de saber direito o que acontecia: levadas ao médico por suas mães, já saiam com prescrição de hormônios para "regular o ciclo" e evitar gravidez. Na visão higienista de alguns médicos, menina pobre tem de tomar anticonceptivo desde cedo pra não ter filho. "As pessoas são pobres porque têm essa carrada de filhos!", argumentam. Mas, não seria ao contrário? Desse jeito, como aprenderão a reconhecer sua ovulação? Parece que mulher pobre vem até perdendo direito de escolher se pretende ou não ter filho. Com indiferença e preconceito, são colocadas no mesmo pacote de "começam tudo cedo essas meninas pobrezinhas..." Nosso reducionismo e desconhecimento da realidade é tão homérico! Como se castrar e esterilizar todas as minas fosse transformar o Brasil num país de Primeiro Mundo (só serviria para aumentar nossa solidão e decadência, penso eu). Nessa mentalidade mesquinha e terra-planista, vão as meninas sendo levadas a viverem passivas, sem compreensão de seus próprios corpos e sua natureza. A vida inteira tomando hormônios que as castram quimicamente, envelhecem, diminuem o prazer, o desejo e o libido sexual, tornando-as estéreis e depressivas. Sem contar que educadas para cumprirem as exigências do universo masculino, com o carimbo intransigente de médicos e médicas... 
...Acredito num país que garanta sonhos básicos como premissa, que não categorize seres humanos por bairro ou fio de cabelo, sem essa mentalidade vip-prime-backstage, onde todos tenham direito a informação de qualidade sobre sua biologia, e decidam sem interferência o que fazer com suas vidas, com oportunidades iguais, gozo e amor em desperdício.

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