TERAPEUTIZÇÃO SOCIAL

Uma paciente - que veio somente para pegar um encaminhamento para psicoterapia - reverberou o que eu vinha sentindo ha algum tempo; de forma espontânea, no auge da consulta. 
"Queria poder contar o que penso e sinto, sem que isso afetasse a vida, a visão que as pessoas tem de mim ou minha relação com elas. Estive pensando, doutor, sabe? Não tenho amigos de verdade. Ninguém com quem eu possa conversar abertamente, sem pudores, sem receios. Ninguém com quem consiga me conectar realmente. Só minha família... Mas, não posso conversar nada com meu marido que ele já quer pegar o problema e resolver, me dar conselhos. Às vezes, só preciso que me escutem, entende, não que resolvam nada."
Tenho observado com interesse e achado um tanto exagerado essa onda de "terapeutização" da sociedade urbanizada: todo mundo com seu terapeuta - público ou particular -, que terminam por ocupar um espaço afetivo, de confiança e aconselhamento antes preenchido pela família, pelos vizinhos, pelos mais velhos, por líderes de todo tipo, e sobretudo, pelos AMIGOS.

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